Estreado em 2023, chegou aos ecrãs portugueses apenas em 2024. Para todos os que queriam ver o filme desde que foi anunciado, como era o meu caso, a espera foi LONGA.


Yorgos Lanthimos, realizador conhecido pelas suas interpretações pouco convencionais em filmes como ‘The Lobster e The Killing of a Sacred Deer’, traz-nos em ‘Poor Things mais uma peça repleta de dimensões e mensagens subliminares.


Referindo apenas coisas que estão no trailer, a história foca-se em Bella Baxter, uma jovem ressuscitada por Godwin Baxter que, cheia de fome para conhecer o mundo, parte numa aventura onde, aos poucos, lhe vão roubando a inocência. O filme acaba por se encher de mensagens fortes de empoderamento, focando em diversos aspetos do universo feminino, numa crítica crua e original.


O universo criado por Yorgos é algo absolutamente novo e fantástico, fruto de uma mente brilhante de tão imaginativa que é. Chega a um ponto em que se torna um desafio para o visualizador tentar entender o que é que está a aparecer no ecrã, e não se enganem, não é uma crítica, mas sim um grande elogio.


A passagem por Lisboa era um ponto de especial interesse para mim, tal como para todos os espectadores portugueses. O retrato de Lisboa é bastante divertido numa passagem pelos dramas de casais em ruas estreitas, o enfardamento obsessivo de pasteis de nata e, claro, pela voz mágica de Carminho que ecoa na pequena varanda. A música O Quarto’ é uma premissa triste disfarçada numa voz bonita, sobre a vivença atual da Bella, que toma progressivamente consciência de vários aspetos “menos bons” à sua volta.


Este especto tão forte do filme, a originalidade sem limites, é também, muito provavelmente, o seu especto mais fraco. É uma bênção, assim como uma maldição, na verdade. Tão distinto na sua narrativa e apresentação, torna-se possível que não seja um filme para todos os visualizadores, sendo que a mente aberta é um requisito obrigatório para assistir a Poor Things.

 

Texto: Francisco Barros

07 de março de 2024 — Diana Nobre